Maria Helena: a história de quem plantou muito mais que café

Chegamos mais uma vez à Mantiqueira de Minas. A brisa fresca característica das montanhas da região e os cafezais que complementam cenários deslumbrantes anunciam que Cambuquira está perto. Saímos de Ribeirão Preto e fomos parar na porteira da Fazenda do Palmital. A recepção não engana: dona Maria Helena tem muito amor sendo cultivado naquelas terras. 

Cada grão da curadoria do mês de maio conta um trecho da história dessa matriarca ímpar. Com muita coragem e honra, ela nunca entregou as pontas. Junto de seu filho Lauro e sua neta Letícia, é a história da dona Maria Helena que queremos contar. 

O sabor dos recomeços

Há 75 anos, os avós de Lauro foram para se estabelecer em Cambuquira. Compraram um pedaço de terra e começaram ali a história da família com a Mantiqueira de Minas. Anos depois, o marido de Maria Helena tocava a fazenda em sociedade, mas ela foi desfeita e os negócios da família começaram a enfrentar problemas. Como a cafeicultora nos contou: “eu saí de dentro de casa e vim ajudar ele. Estudei bastante e aprendi com ele a mexer, receber, marcar o café, fazer conta. Levantei até de madrugada para fazer isso.” 

Apesar da fazenda ter desenvolvido a fruticultura e a pecuária como atividades complementares, naquela época a cafeicultura já era o foco. No entanto, ninguém poderia contar com uma infelicidade do destino: o marido de Maria Helena faleceu, pegando a todos de surpresa. Foi essa mesma infelicidade, porém, que a transformou na matriarca da família. Com muita coragem e honra, ela não entregou as pontas: assumiu a gestão dos cafezais e trouxe o amor da família para ainda mais perto dos grãos.

“Ele faleceu no sábado. Na segunda, minha filha falou: ‘A senhora era o barco, hoje a senhora é o comandante’. E eu falei para o meu filho: ‘Seu pai não volta. Agora, sou eu e você. Não vamos deixar a peteca cair’. Meu marido sabia que, se ele morresse, eu ia tocar, porque ele dizia que sabia eu tinha garra. Por isso, graças a Deus, nós vencemos.”

Colhendo grãos, servindo histórias

Desde o início, Maria Helena contou com seus funcionários para construir uma fazenda saudável e produtiva. A matriarca sempre reconheceu o mérito de contribuintes bons e fiéis. Não é à toa que, hoje em dia, ela tem todo o reconhecimento e o respeito de quem trabalha ao seu lado. “Dá o respeito para ser respeitado”. 

A execução dos trabalhos na Fazenda sempre foi feita com muito carinho e dedicação. Por esse motivo, juntamente do terroir único da Mantiqueira de Minas, o café especial chegou ao conhecimento da família. Receberam, no ano de 2006, um convite para participar de um concurso da Minasul. 

Foi nesse evento que os grãos da dona Maria Helena foram reconhecidos pela qualidade bem acima da média, e também lá eles descobriram o potencial que tinham para o mercado de café especial. Os próximos passos foram se repetindo cada dia mais: melhorar, melhorar e melhorar. 

Maria Helena é um livro de ensinamentos em forma de pessoa. Exigente e muito atenta, ela não se desliga de nada, está sempre por dentro de tudo, sem nunca se esquecer de onde vieram. Seu momento favorito, ela nos revelou, é mexer com o terreiro. Se pudesse, passava o dia todo por lá.

Muito admirada pelo filho e pela neta, ela acredita no poder de mentes jovens e empolgadas, confiando nos seus sucessores para que a ajudem. Embora a sucessão familiar seja um grande desafio, dar um passo de cada vez é sempre o melhor jeito de caminhar. Cada um possui sua devida função e importância, mas eles nunca deixam de trocar conselhos e experiências, sem nunca perder o respeito. 

Raízes sustentáveis e o futuro da cafeicultura

É claro que todo esse cuidado com a família e o café não poderiam deixar de lado a pauta da sustentabilidade. Afinal, esse é um grande passo de cuidado com a nossa casa: o planeta Terra. Como nos disse Lauro: “A gente tem tentado fazer uma produção aliada ao meio ambiente, com proteção da fauna e da flora. Existem corredores ecológicos. Por exemplo, nós estamos aqui sentados no meio de duas lavouras de café, mas na sombra. Aqui, os animais podem trafegar livremente no meio da propriedade. Respeitamos tudo e, principalmente, o ser humano, nossos colaboradores. […] Sempre olhamos as aptidões da terra. Eu ando muito por aqui e vejo os animais, como passarinhos, quatis, lobos e até onça. Não mexemos com eles, e eles não mexem com a gente. Isso é muito importante.”

Dizem que por aqui, na Mantiqueira de Minas, o céu e a terra se encontram e que o gostinho dos seus grãos carregam alma, tradição e cuidado. Agora, é a sua vez de sentir a verdade dessas palavras direto na xícara! Pronto para embarcar nessa com a gente?

Uma mensagem especial para os assinantes do clube: queremos saber o que acharam ao provar essa seleção inédita! Como foi a experiência de ter um gole da Mantiqueira de Minas e do amor da Maria Helena na sua casa?