O que é o “café fake” e como reconhecer?

O que é o “café fake” e como reconhecer?

Você já deve ter ouvido falar por aí sobre o “café fake” ou “cafake”. Alguns podem, inclusive, já ter encontrado nas prateleiras do supermercado ou até mesmo ter colocado no carrinho de compras sem saber. Pois é! Essa confusão tem sido frequente. 

Com a alta recorde nos preços do café, o “pó para preparo de bebida à base de café” ou “pó sabor café” tem tomado conta das gôndolas. Mas, afinal, do que se trata esse produto?

À direita, o café tradicional Melitta. À esquerda, “café fake” Melissa.

O verdadeiro café tem algo além do grão em sua composição?

Conforme explicou o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), Celírio Inácio: “o café é um monoproduto extraído do grão de café. Junto a esse grão, depois de secado e beneficiado, sobram casca, mucilagem, pau, pedra, palha e tudo o que vem junto com o café – mas não é café”.

Vale ressaltar ainda que a legislação brasileira permite que o produto possua até 1% dessas impurezas naturais do café (como folhas e cascas) e matérias estranhas (como paus e pedras), porém não permite nada de materiais estranhos, como milho, trigo, corante ou açúcar. 

À esquerda, alguns grãos de café e muitas impurezas. À direita, somente os grãos de café.

O café fake conta com uma grande porcentagem de impurezas em sua composição, além do grão. Portanto, ele não pode ser considerado, de fato, café. Alguns deles nem sequer deixam claro quais ingredientes compõem sua fabricação. Como reiterou Mariana Ribeiro, do IDEC (Instituto de Defesa do Consumidor), “ele tem uma estratégia que está levando o consumidor ao engano”. 

Como o café fake te engana?

Quando se trata de enganação, estes produtos são efetivos. A embalagem produzida pelas empresas que os comercializam são extremamente semelhantes às de um café original. Porém, como era de se esperar, a imagem que circula pelas redes mostra o meio quilo de “pó sabor café” custando R$13,99 no mês de janeiro, praticamente a metade do valor de um café tradicional (R$30,00 para 500g).

Além disso, uma grande preocupação é o fato de que esse produto não está registrado na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para comércio, logo pode representar, de fato, um risco à saúde do consumidor. 

Como os preços muito altos favorecem os “parecem, mas não são”?

Essa não é a primeira aparição do “café fake” no mercado, porém ele não estava sendo identificado pela ABIC desde 2022 nas prateleiras. Sendo assim, podemos considerá-lo ainda mais uma resposta à inflação e ao aumento incessante do preço do café, que precisou ser repassado pela indústria ao consumidor. 

Como destacou o diretor da ABIC, “estamos passando por um momento de muita tensão, o café cru, base do torrado e moído, até na geada de 1979 não achei preços tão elevados. Quando isso acontece, faz com que a matéria-prima fique cada vez mais disputada e os industriais que adquirem a matéria-prima com esses preços vão repassá-los”. 

Outras imitações pelo mercado

O cenário econômico de alta nos preços dos alimentos e bebidas, o qual estamos enfrentando, é um terreno bastante fértil para o surgimento dos famosos “parecem, mas não são”. Na mesma linha do “cafake”, a bebida láctea, o óleo composto, o creme culinário e o produto cremoso sabor requeijão são exemplos de produtos que imitam, respectivamente, o iogurte, o azeite, o creme de leite e o requeijão. 

Isso não é uma regra, porém esses alimentos e bebidas podem, sim, representar sérios riscos à saúde. Isso ocorre porque sua composição fica bastante incerta e, por muitas vezes, não passam por órgãos de fiscalização sanitária e alimentar. Além disso, um dos grandes problemas desses produtos similares é quando a rotulagem dificulta a diferenciação por parte do consumidor, como disse Mariana, do IDEC. É dessa forma que o consumidor pode estar sendo enganado e levado a consumir algo que não deseja. 

“A fraude acontece quando você coloca a palavra café para ter benefício econômico e o consumidor não consegue saber sobre isso. Acompanhamos há alguns anos essa tentativa de fazer um produto de ‘café’ que não seja café, mas diante do aumento do preço eles elevaram o nível de criatividade e criaram produtos ilegais, que não são reconhecidos pela Anvisa, para atender aos anseios de um preço menor.” – Celírio Inácio (diretor da ABIC). 

Como não ser enganado com o “café fake”?

  1. Para ser café, o produtor precisa ser composto unicamente pelos grãos da planta do café, pois “qualquer coisa que não seja Coffea não pode usar a palavra café”, como explicou Celírio.
  1. O café verdadeiro deve conter o selo da ABIC, que fica disponível em um QR Code na embalagem, com todas as informações necessárias. Essa certificação é uma regra adotada junto ao Ministério da Agricultura para assegurar ao consumidor a boa qualidade e o conhecimento do que consome. 
Selos de qualidade e pureza concedidos pela ABIC de acordo com sua avaliação
  1. Lembre-se que as impurezas são permitidas em, no máximo, 1% da composição, um nível muito baixo, não devendo ser porção dominante. 
  1. O café verdadeiro ainda vai conter informações em sua embalagem, como grau de torra e moagem, e a variedade (arábica, robusta, conilon).
  1. Fique atento, pois as embalagens fakes devem se parecer muito com as originais, contendo, inclusive, fotos do café para desviar a atenção do consumidor de possíveis falsificações. 

O que eu faço para fugir do fake se o preço está alto?

Os supermercados já foram notificados pela ABIC sobre o perigo de fornecerem os “cafakes” aos consumidores em suas prateleiras, porém não é garantida sua retirada. Logo, é muito importante que saibamos identificá-los. Afinal, ninguém quer tomar uma bebida sem o mesmo sabor inconfundível do café, com impurezas e riscos à saúde, mesmo que o preço seja bastante atrativo. 

Para os apaixonados pelo cafezinho diário, a melhor oportunidade é investir em um café de qualidade garantida e rastreabilidade, vindo das melhores regiões do país. Além disso, já que o preço está assim tão alto, por que não tornar o café uma experiência a ser vivida? Podemos garantir que existe um universo de métodos, receitas e sabores a ser desvendado no café especial

Foto ilustrativa da box do clube Veroo de dezembro de 2024

É dessa forma que as comunidades de cafezeiros e os clubes de assinatura têm sido cada vez mais procurados pelo Brasil. Eles proporcionam uma vivência diferenciada e todo o conforto de receber café de verdade em casa. No cenário atual, precisamos estar cada dia mais atentos aos investimentos de dinheiro e energia que fazemos, por isso a necessidade de boas escolhas. 

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