Por que o preço do café está tão alto?

Por que o preço do café está tão alto?

Muito tem se falado sobre o aumento expressivo do preço do café no mercado internacional. As cotações na bolsa de valores de Nova Iorque tiveram as maiores altas nos últimos meses após 50 anos, com reajustes passando dos 70%. Esse contexto, inclusive, já tem sido sentido no bolso dos brasileiros. Conforme a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), já foi registrado um aumento de 5% a 7% nas prateleiras dos grãos no comércio durante somente os primeiros 10 dias de dezembro de 2024.

Afinal, o que tem causado esse aumento assustador? Quais os valores em comparação com os registros históricos? E a safra de 2025 já está mesmo prejudicada pelo cenário atual? Vamos falar sobre tudo isso.

Condições climáticas extremas

O primeiro e grande fator que desestabilizou o mercado do café foi o clima. As grandes regiões tropicais produtoras de café, como Brasil, Vietnã e Colômbia, concentram cerca de 56% da oferta global do produto. Ou seja, o mercado fica extremamente suscetível a variações brutais nos preços de acordo com condições adversas nesses poucos pontos do globo. 

Sendo assim, as condições climáticas presenciadas no Brasil durante 2024 prejudicaram muito a oferta mundial de grãos. O último recorde de alta para o café havia sido registrado em 1977. Foi nesse ano que uma geada incomum devastou diversas plantações brasileiras. 

Porém, nos meses de agosto e setembro, passamos pela pior seca da história em 70 anos. Se pudéssemos enxergar para além da nuvem de fumaça que cobriu o país todo após o segundo trimestre do ano, estaríamos olhando para um país todo pegando fogo. 

Da Amazônia ao Rio Grande do Sul, as chamas cobriram milhares de quilômetros de plantação, vegetação e, inclusive, de construções e pastos. Entre janeiro e novembro de 2024, foram queimados mais de 30 milhões de hectares, um valor 90% maior em comparação com o mesmo período do ano passado. 

Para mensurarmos ainda mais o tamanho do desastre ambiental, a capital paulista registrou uma das piores qualidades de ar do mundo, chegando a liderar o ranking da IQAir entre as metrópoles mundiais analisadas. 

O fogo, o ar muito quente e seco, a estiagem, geadas inesperadas, índices de chuva baixíssimos, rios e afluentes em níveis assustadoramente menores que o “normal”… Todos esses fatores desenharam um cenário muito grave para os cafezais. Aqueles que não foram diretamente atingidos pelas chamas, com certeza tiveram sua evolução muito retardada: flores secando sem água, solo pobre, desequilíbrio de pragas (como cigarra e bicho mineiro) devido a altas temperaturas e desequilíbrio climático no geral. 

Problemas climáticos acontecem também fora do Brasil

Todo esse quadro aumenta, e muito, o valor do manejo e do cultivo, expandindo as necessidades de investimento em insumos, transporte e energia, por exemplo. Não bastassem estes desafios no Brasil, o maior produtor mundial de café, o segundo colocado nesse ranking, Vietnã, também enfrentou um tempo muito seco e quente nos primeiros 4 meses do ano, com precipitações abaixo da média histórica. 

Diante disso, já era de se esperar que a queda brusca na oferta e as crescentes preocupações com a safra 25/26 causariam alterações pesadas no preço das commodities anunciado nas bolsas mundo afora.

Afinal, como estão os preços do café?

Conforme dados do CEPEA/ESALQ, 1 saca de café arábica (o que corresponde a 60 quilos) atingiu, no dia 10 de dezembro de 2024, o valor de 2119,09 reais (ou 363,01 dólares). Ou seja, nesse dia, 1 quilo de café verde estava custando mais de 35 reais, enquanto, nessa mesma época de 2023, 1 quilo custava menos de 17 reais. Estes valores representam um aumento de 112% neste ano, saindo de 990 reais.

Da mesma forma, o café robusta teve seus valores dobrados de 2023 para 2024, apesar de ainda estar abaixo do preço do café arábica. Na mesma data (10/12/2024) e segundo o mesmo indicador, a saca valia 1833,53 reais. 

Vale ressaltar que os preços são flutuantes, ou seja, não se mantém de um dia para o outro. Apesar de sofrerem alterações diárias, eles vêm aumentando sem perspectiva positiva para o próximo ano. Segundo especialistas, já é necessário repassar o valor ao consumidor final, uma vez que o aumento do valor na ponta já chegou a 33% para o café moído, conforme dados do IBGE. Falando no próximo ano, o que podemos esperar de 2025 quanto ao preço do café?

Qual o futuro do café?

O mercado do café está em momento de total cautela, sendo que os rendimentos acerca da safra 25/26 ainda são grandes incertezas e geram grandes preocupações. Com grande parte da produção e da oferta afetadas pelos problemas climáticos abordados aqui, os valores já ficam instáveis. 

Acredita-se que a próxima safra já começa com um impacto negativo de, pelo menos, 30%, o que aumenta a credibilidade da previsão de que ela será certamente reduzida. Existe a estimativa de que serão produzidas 34,4 milhões de sacas de café arábica na safra 25/26, cerca de 11 milhões de sacas a menos do que havia sido previsto em setembro. Isso pode levar a um grande déficit. 

Além disso, soma-se o fato de que o café é a segunda commodity mais negociada do mundo em volume, depois somente do petróleo bruto, e sua popularidade só vem crescendo, com o consumo da potência mundial que é a China tendo dobrado na última década. Portanto, oferta em baixa e demanda em alta formam um cenário econômico bastante conhecido e totalmente desfavorável ao preço de compra. 

A indústria no geral (e também nós, da Veroo) segurou uma grande parte do repasse quando os preços começaram a subir, espremendo as margens o quanto foi possível, mas a tendência é que os preços continuem a subir. Por isso, é importante lembrar que o café de qualidade exige um trabalho árduo de pequenos produtores, como os nossos, e o valor pago pelos grãos de café reflete o esforço por trás de cada xícara.

Valorização da cadeia do café em meio à alta do preço

Se você é um amante de café, sabe que cada gole faz a diferença e que vale a pena investir em uma boa seleção especializada, que traga qualidade e sabor, mesmo com os desafios enfrentados em toda a cadeia. 

Afinal, a alta no preço do café pode ser temporária ou se estender, mas o que não muda é o amor dos brasileiros por essa bebida, que é parte da nossa cultura, e nosso dever, como consumidores conscientes, de seguir valorizando toda a cadeia do café, do pé à xícara!

 

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