O que é café 100% arábica?
Podemos facilmente dizer que o café é uma bebida universal, consumida em todos -ou praticamente todos- os cantos do mundo. Porém, você já deve saber que ele não é exatamente o mesmo em todos esses lugares. São conhecidas atualmente cerca de 124 espécies do gênero Coffea, das quais duas delas alcançaram proporções globais de consumo e impacto econômico: a arábica e a canéfora.
Dentro dessas duas espécies, existem diversas outras variedades sendo abordadas e estudadas por produtores rurais e pesquisadores. Elas possuem, inclusive, indicações geográficas (IGs) que mostram cientificamente suas similaridades, diferenças e regiões determinantes de produção. Cada variedade, portanto, possui características agronômicas, sensoriais, fenotípicas e físico-químicas particulares.
É fato que, quando manejadas de forma correta, ambas as espécies de café originam bebidas únicas e de alta qualidade, mas, afinal, você sabe qual é o café que você consome? E essa famosa expressão “100% arábica” quer dizer exatamente o que? Seria um selo de qualidade? Segue aqui, que vamos te explicar.
Diferenças entre café arábica e café canéfora
Primeiramente, vale dizer que o café arábica possui diversas variedades botânicas, enquanto o café canéfora possui apenas duas: conilon e robusta. Aqui no Brasil, o termo “conilon” é frequentemente usado para se referir ao canéfora, mas isso não seria o ideal, uma vez que existem diferenças consideráveis entre ele e o robusta, desde a planta até a xícara. Na região amazônica, por exemplo, todos os estados produzem robusta, enquanto na Bahia e no Espírito Santo, prevalece o conilon.
Por essa informação, você já deve ter compreendido que o local de cultivo e suas condições, isto é, o “terroir”, exercem grande influência sobre a espécie e a variedade que crescem no solo. A canéfora, por exemplo, adora climas mais quentes, pois suporta maiores temperaturas, sendo também mais resistente a pragas e doenças. Já a arábica prefere um clima mais ameno, com altitudes mais elevadas.
Além disso, a etapa de pós-colheita possui diversos processos interativos, inclusive de fermentação, que ajudam a consolidar, posteriormente, o perfil do café. É importante dizer aqui que ambas as espécies podem “gerar” percepções diferentes por parte da memória sensorial. No entanto, considera-se que o café arábica possui melhores condições de promover variadas nuances da bebida.
Composição das duas espécies
Em termos de composição da polpa e tamanho dos frutos, ambas as espécies podem apresentar variações a depender de vários fatores. Já quanto à estrutura, enquanto a canéfora possui 22 cromossomos que abrigam o material genético da planta e é alógama (com mais de 95% de fecundação cruzada), a arábica apresenta o dobro de cromossomos e é autógama, isto é, tem menos de 5% de fecundação cruzada (o que explica o fato de os talhões serem de uma única espécie). As mudas de ambas são formadas por meio de sementes, e a espécie canéfora ainda pode ser constituída por clone.
Conforme informações do Instituto Federal do Espírito Santo, ocorre também significativa diferença na presença de cafeína entre tais espécies. Esse composto varia entre 0,8 e 1,4% em arábicas, e entre 1,7 a 4% em canéfora. Sendo assim, pode-se concluir que a quantidade percentual nesta segunda espécie é dobrada em relação à primeira.
Por que o café arábica tende a ser mais caro?
De forma geral, o café arábica é mesmo mais caro do que outras espécies, por diversas razões:
- O café é cultivado em altitudes elevadas, o que favorece o desenvolvimento de sensoriais, aromas e retrogostos variados, mas também exige maiores atenções e investimento dos produtores, elevando o preço final do café;
- Por ser mais suscetível a doenças, pragas e mais frágil diante de fenômenos climáticos, como geadas ou secas, sua produtividade pode ser afetada e naturalmente também exige maior controle durante o manejo;
- Comparando a espécie arábica com a segunda de maior relevância econômica, a canéfora, esta última tende a possuir uma produção mais constante e abundante, portanto o seu valor tende a ser inferior;
- A demanda do arábica é maior, tanto nos mercados nacionais quanto internacionais, sendo valorizado como produto de altíssima qualidade e representando mais da metade das 170 milhões de sacas anuais produzidas mundialmente;
- A produção da planta arábica tende a ser bianual, ou seja, geralmente produz muito em um ano e bem menos no ano seguinte. Esse fator exige maior planejamento do cultivo.
Do que se trata o café 100% arábica, então?
O café “100% arábica” é um termo que surgiu para designar os cafés feitos exclusivamente com grãos arábica, como o próprio nome sugere. Essa espécie é muito valorizada no mundo todo, representando 60% da produção mundial de café e sendo consumida em cafeterias especializadas e de alto padrão. Logo, a expressão foi criada para que o consumidor soubesse que está adquirindo um produto todo feito dessa mesma “qualidade”, por assim dizer.
A utilização desse termo ainda é uma forma de evitar que as pessoas adquiram misturas indesejadas, sem saber. Tais composições são feitas para atender a demandas de mercados específicos, com padrões de segurança e qualidade, como ocorre com alimentos no geral. Apesar disso, tendem a apresentar o critério de unicidade e sabor menos aguçado que o café 100% arábica em si. Vale dizer ainda que os grãos maduros desta espécie podem ter diferentes cores, como: verde azulado, verde-cana, verde, amarelo e chumbado.
Variedades do café arábica
O café 100% arábica pode ser de diferentes variedades, sendo algumas elas:
- Bourbon: originária da ilha de Bourbon, com sabor doce, encorpado e equilibrado; muito cultivada em países, como Brasil, Colômbia e Costa Rica;
- Catuaí: originária do Brasil, é um híbrido entre as variedades Mundo Novo e Caturra, com sabor mais doce, acidez e corpo moderados, requer alguns cuidados especiais;
- Mundo Novo: também é um híbrido, entre Bourbon e Typica, e originário do Brasil, com grãos vermelhos e maiores, sabor suave e baixa acidez, além de ser bastante resistente;
- Caturra: sua origem é a Colômbia, sendo uma mutação da variedade Bourbon, com sabor intenso e acidez mais elevada;
- Acaiá: uma variedade com sabor suave, acidez baixa e de frutos grandes, bastante cultivada nos estados de Minas Gerais e São Paulo, os dois maiores produtores de café arábica no Brasil;
- Maragogipe: essa é originária da Bahia, com grãos gigantes e alongados, cultivada em altitudes médias e baixas, e produtividade mais reduzida.
Qual a relação do café 100% arábica com o café especial?
Originário da Etiópia, onde foi descoberto e comercializado pelos árabes há milhares de anos, espalhando-se pela Europa a partir do século XIV com o nome de “vinho da Arábia”, o café arábica tornou-se uma bebida sofisticada e até hoje é visto dessa forma.
Entretanto, o termo café 100% arábica é apenas uma linguagem da indústria. Ou seja, confere ao café comercial uma espécie de rótulo que garante a não ocorrência de misturas. Logo, esse conceito não se traduz em regra de qualidade.
Sendo assim, o café especial, podendo ser originado de cafés 100% arábica, 100% robusta ou até mesmo de blends, precisa ser laudado e qualificado de acordo com avaliações criteriosas de especialistas, como falamos por aqui. Portanto, a categoria de “especial” independe de espécie, estando relacionada a atributos do produto e formas de produção, como uma bebida limpa e livre de defeitos (adstringência ou fermentação indesejadas), e um sistema produtivo alinhado a práticas de cultivo e conservação do meio ambiente. Vale lembrar ainda que esses fatores são somatórios, portanto não necessariamente cumprir apenas 1 deles garante a especialidade.
Agora ficou fácil entender que a palavra “especial” tem o seu peso, na teoria e na prática. Para além disso, um café assim classificado ainda conta com todas as definições do laudo de um Q-Grader. Consumir bebidas desse universo é uma experiência realmente diferenciada, que você pode vivenciar todos os dias na nossa comunidade!
Publicar comentário